Quais são as diferenças entre as Bíblias Ortodoxa, Católica e Protestante?

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As diferenças entre as Bíblias Ortodoxa, Católica e Protestante estão enraizadas nos desenvolvimentos históricos, teológicos e eclesiásticos que moldaram cada tradição. Compreender essas diferenças requer uma jornada pela história da Igreja, a Reforma e a tradução da Bíblia. Cada tradição tem seu próprio cânone das Escrituras, que reflete suas perspectivas teológicas e experiências históricas.

O Cânone das Escrituras

O termo "cânone" refere-se à lista autoritativa de livros que são considerados Escrituras. As diferenças nos cânones das Bíblias Ortodoxa, Católica e Protestante são significativas e têm profundas implicações para a teologia e a prática.

Bíblia Ortodoxa

A Bíblia Cristã Ortodoxa inclui o Antigo Testamento e o Novo Testamento, mas seu cânone do Antigo Testamento é maior do que o da Bíblia Protestante. O Antigo Testamento Ortodoxo é baseado na Septuaginta (LXX), uma tradução grega das Escrituras Hebraicas que foi amplamente utilizada na Igreja primitiva. A Septuaginta inclui livros que não são encontrados na Bíblia Hebraica, frequentemente referidos como os livros "Deuterocanônicos" ou "Anagignoskomena" na tradição Ortodoxa.

O Antigo Testamento Ortodoxo inclui livros como 1 Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Sirácida (Eclesiástico), Baruc, a Carta de Jeremias, adições a Daniel (Susana, Bel e o Dragão, a Oração de Azarias) e adições a Ester. O Novo Testamento Ortodoxo é idêntico ao das tradições Católica e Protestante, consistindo de 27 livros.

Bíblia Católica

A Bíblia Católica também inclui o Antigo Testamento e o Novo Testamento, mas seu cânone do Antigo Testamento é ligeiramente diferente do cânone Ortodoxo. O Antigo Testamento Católico é baseado na Septuaginta, mas inclui uma lista específica de livros Deuterocanônicos que foram afirmados no Concílio de Trento (1546) em resposta à Reforma Protestante.

O Antigo Testamento Católico inclui os seguintes livros Deuterocanônicos: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Sirácida (Eclesiástico), Baruc, 1 Macabeus, 2 Macabeus e adições a Ester e Daniel. Como nas tradições Ortodoxa e Protestante, o Novo Testamento Católico consiste de 27 livros.

Bíblia Protestante

A Bíblia Protestante consiste no Antigo Testamento e no Novo Testamento, mas seu cânone do Antigo Testamento é baseado na Bíblia Hebraica (Tanakh) e não inclui os livros Deuterocanônicos. A Reforma Protestante, liderada por figuras como Martinho Lutero, enfatizou um retorno ao cânone hebraico para o Antigo Testamento.

Como resultado, o Antigo Testamento Protestante inclui apenas os livros encontrados na Bíblia Hebraica: Gênesis a Malaquias, totalizando 39 livros. O Novo Testamento Protestante é idêntico ao das tradições Ortodoxa e Católica, consistindo de 27 livros.

Contexto Histórico

As diferenças nos cânones das Bíblias Ortodoxa, Católica e Protestante estão profundamente enraizadas em desenvolvimentos históricos.

Igreja Primitiva e a Septuaginta

A Igreja Cristã primitiva usava principalmente a Septuaginta como sua Escritura do Antigo Testamento, especialmente nas regiões de língua grega do Império Romano. A Septuaginta foi amplamente aceita e utilizada pelos Padres da Igreja primitiva, e incluía livros que foram posteriormente disputados durante a Reforma.

Concílios e Cânones

O processo de determinação do cânone das Escrituras foi complexo e levou vários séculos. Vários concílios e sínodos locais na Igreja primitiva tomaram decisões sobre o cânone, mas não havia uma lista universalmente aceita até mais tarde. Os Concílios de Hipona (393) e Cartago (397, 419) desempenharam papéis significativos na afirmação do cânone das Escrituras, incluindo os livros Deuterocanônicos.

A Reforma

A Reforma Protestante no século 16 trouxe mudanças significativas ao cânone das Escrituras. Reformadores como Martinho Lutero questionaram a autoridade dos livros Deuterocanônicos, argumentando que eles não faziam parte da Bíblia Hebraica e não deveriam ser considerados Escrituras. Isso levou à exclusão desses livros do Antigo Testamento Protestante.

Em resposta, a Igreja Católica reafirmou o cânone das Escrituras, incluindo os livros Deuterocanônicos, no Concílio de Trento. Isso solidificou as diferenças entre os cânones Católico e Protestante.

Implicações Teológicas

As diferenças nos cânones das Bíblias Ortodoxa, Católica e Protestante têm implicações teológicas que afetam a doutrina, a liturgia e a prática.

Autoridade das Escrituras

Para os Protestantes, o princípio de "sola scriptura" (somente a Escritura) enfatiza a autoridade da Bíblia como a única regra de fé e prática. Esse princípio levou a um foco no cânone hebraico para o Antigo Testamento, excluindo os livros Deuterocanônicos.

Em contraste, as tradições Ortodoxa e Católica mantêm uma compreensão mais ampla da autoridade, que inclui as Escrituras, a Tradição e a autoridade de ensino da Igreja (Magistério para os Católicos). A inclusão dos livros Deuterocanônicos reflete essa perspectiva mais ampla sobre a autoridade.

Diferenças Doutrinárias

A inclusão ou exclusão dos livros Deuterocanônicos levou a diferenças doutrinárias entre as tradições. Por exemplo, a doutrina católica do Purgatório encontra algum apoio em 2 Macabeus 12:45-46, um livro Deuterocanônico. Como este livro não está incluído no cânone Protestante, a doutrina do Purgatório não é aceita na teologia Protestante.

Da mesma forma, a tradição Ortodoxa inclui orações pelos mortos e a veneração dos santos, práticas que são apoiadas por alguns dos livros Deuterocanônicos. Essas práticas são menos enfatizadas ou ausentes nas tradições Protestantes devido à exclusão desses livros.

Tradução e Interpretação

A tradução e a interpretação da Bíblia também foram influenciadas pelas diferenças nos cânones.

Tradição Ortodoxa

A Igreja Ortodoxa tradicionalmente usou a Septuaginta como seu texto principal do Antigo Testamento, e isso influenciou a teologia e a liturgia Ortodoxas. O texto grego da Septuaginta moldou a linguagem e o pensamento da Igreja Oriental, e sua inclusão dos livros Deuterocanônicos enriqueceu a espiritualidade Ortodoxa.

Tradição Católica

A Igreja Católica usou a Vulgata Latina, traduzida por São Jerônimo no final do século 4, como seu texto autoritativo por muitos séculos. A Vulgata inclui os livros Deuterocanônicos, e sua tradução influenciou o pensamento e a prática cristã ocidental. A Igreja Católica também enfatiza a importância da Tradição e do Magistério na interpretação das Escrituras.

Tradição Protestante

As traduções Protestantes da Bíblia, como a Versão King James (1611) e traduções subsequentes, foram baseadas no texto hebraico para o Antigo Testamento e no texto grego para o Novo Testamento. A exclusão dos livros Deuterocanônicos levou a um foco nos livros canônicos da Bíblia Hebraica, e isso moldou a teologia e a prática Protestante.

Conclusão

As diferenças entre as Bíblias Ortodoxa, Católica e Protestante estão enraizadas em desenvolvimentos históricos, perspectivas teológicas e decisões eclesiásticas. As tradições Ortodoxa e Católica incluem os livros Deuterocanônicos em seus cânones do Antigo Testamento, refletindo seu uso da Septuaginta e uma compreensão mais ampla da autoridade. A tradição Protestante, influenciada pela Reforma, adere ao cânone hebraico para o Antigo Testamento, enfatizando o princípio de "sola scriptura".

Essas diferenças têm profundas implicações para a teologia, doutrina, liturgia e prática. Compreender essas distinções ajuda a apreciar a rica diversidade dentro da tradição cristã e o contexto histórico que moldou o desenvolvimento da Bíblia em diferentes comunidades cristãs.

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